sexta-feira, dezembro 22, 2023

Luta pelo Clima - Isto ainda vai acabar mal

 


Entre 1972 e 1974 os liceus deste país, pelo menos nas três cidades maiores de então, fervilhavam entre a raiva, o combate à incorporação na guerra colonial e a um governo cada vez mais violento e senil. Começávamos uma aprendizagem política a ferros. Está a acontecer, neste momento, uma exposição em Lisboa que lembra as lutas do Maesl e dos estudantes do secundário. A partir das "eleições" fraudulentas de 73 foram criadas as Cde, ou seja a Cdel, Cdep e em Coimbra a Cdec, Comissão Democrática de Estudantes de Coimbra. A UEC e o PCP decidiram que havia condições para aumentar as reivindicações estudantis no âmbito da criação de associações livres do fascismo. Foi então criada a Cpraac e nos liceus a Cpael (Comissão Pró-Associação de Estudantes Liceais). E atenção: alguns de nós já saíamos da caixa, éramos incontroláveis, uma espécie de "enragés" que nada tinham a ver com os objectivos programáticos dos universitários ou do partido. Tinham alguma razão. Muitos acabaram desirmanados. Mas esta história ainda não está feita.
Porque estou a lembrar isto? As comparações são perigosas e talvez pequem por extemporâneas, mas não é a primeira vez que refiro aqui a repressão completamente desproporcionada e criminosa contra os jovens estudantes que lutam decidida e corajosamente por um planeta melhor e mais limpo, lutando contra a Cop28, organizada, como sabemos, pela Opep. A polícia e a população motorizada reprimem juntos (!!) estes jovens de ambos os sexos, arrastando-os pelos cabelos, agredindo-os violentamente à vista de todos e das fotos como se a razão fosse a deles. Mas de relatórios a denunciar a nossa polícia sobre violência e tortura já conhecemos o suficiente.
Mais: nos artigos de opinião e na generalidade dos media e de jornais de referência, surgem juízes que, à pala da opinião, elaboram autênticos guiões para a acusação destes jovens, propondo até a pena para mais de 5 anos o que permitiria a prisão efectiva. Força! A polícia e a população (essa entidade esquisita) agradecem. Metê-los a todos na prisão depois de um enxurro de porrada é que é democrático e pedagógico. Quanto ao planeta, já vimos que apostam na Opep para, daqui a 20 anos, assinarem um acordo de viagens tipo Ryanair para Marte e botijas de oxigénio grátis, porque já não se poderá fazer nada aqui.
Esquecem contudo: que tal como em 73/74 o movimento não pára. Tende a crescer, tende a radicalizar-se, tende a fazer asneiras também, mas essencialmente a ganhar os avós, os pais e familiares, os amigos destes miúdos violentados por terem razão. Ou seja, dentro de 10 anos, ou menos, tendem a ter o poder. Ou a lutarem com violência contra ele.

Isto vai acabar muito mal. Primeiro com uma tragédia. Depois, a longo prazo, com uma radicalização para onde o Estado repressivo os está a empurrar, para esconder a sua própria incompetência e inconsciência climática. E é isto: as fotos de cabeças ensanguentadas de jovens manifestantes são retiradas à pressa daqui para fora. Tal como a censura fazia em 73 e 74. Acreditem, vai acabar mal.