segunda-feira, fevereiro 13, 2023

«Não-Lugares. Introdução a uma antropologia da sobremodernidade», de Marc Augé

 

2ª Edição Letra Livre, 2016. Tradução de Miguel Serras Pereira
«(...) As três figuras do excesso pelas quais tentámos caracterizar a situação de sobremodernidade (a superabundância de acontecimentos, a superabundância espacial e a individualização de referências) permitem que apreendamos sem ignorarmos as suas complexidades e contradições, mas sem fazer também delas o horizonte insuperável de uma modernidade perdida da qual nos restaria apenas assinalar os traços, repertoriar as formações ou inventariar os arquivos. O século XXI será antropológico, não só porque as três figuras do excesso [o Tempo, o Espaço e o Ego] são apenas a forma actual de uma matéria-prima perene que é a própria matéria da antropologia, mas também porque nas situações de sobremodernidade (como nas que a antropologia analisou sob o nome de «aculturação») as componentes se adicionam sem se destruir. Podemos assim tranquilizar antecipadamente aqueles que se apaixonam pelos fenómenos estudados pela antropologia (da aliança à religião, da troca ao poder, da possessão à feitiçaria): estes não estão perto de desaparecer, nem em África, nem na Europa. Mas tornarão a fazer sentido (o sentido) com o resto, num mundo diferente cujas razões e desrazões os antropólogos de amanhã terão, como hoje, a tarefa de compreender.» (pág.40).