O ponto de exclamação aposto neste título tem tudo a ver com
a postura guerreira do poeta, dramaturgo, encenador, contista, pintor e
desenhador modernista. Português, «futurista e tudo!», segundo as suas palavras
iniciais, foi um verdadeiro tufão, um ciclone, no calmo e obediente panorama
das letras e artes pictóricas portuguesas do início do século. Nascido na ilha
de S. Tomé em 1893, faleceu em 1970 em Lisboa. Revejo-o, hoje, como um fenómeno
ímpar e não repetido na arte portuguesa. Mas não se iludam com os rótulos com
que errada e frequentemente se lhe colam à pele. O seu espírito irrequieto e
independente recusaria qualquer compartimento artístico ou movimento que lhe
roubaria a sua individualidade singular. Foi precoce em tudo e recusou qualquer
educação artística. Ligou-se à revista Orpheu
juntamente com Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, Mário de Sá-Carneiro ou José
Pacheko. A revista Portugal Futurista,
apreendida pela polícia logo no seu primeiro número, juntou-o a Amadeo de
Souza-Cardozo e Santa-Rita Pintor, falecidos, muito novos, em 1918. Mário de
Sá-Carneiro tinha-se suicidado em Paris logo em 1916. O circunspecto e
introvertido Fernando Pessoa, dizia-se, não simpatizaria muito com a
irrequietude e o hiperactivismo de Almada, mas nunca pôs em causa a sua
genialidade. Porque de um génio se tratava. Não se deixava amansar. O facto de
ter passado por Paris e por Madrid, juntamente com Sarah Afonso, sua
companheira e artista excepcional, não travou o seu encanto crítico a Portugal.
Veio para cá. O seu carácter intransigente para com movimentos artísticos
levou-o, mais tarde, a recusar ser futurista, nomeando-se interseccionista e
sensacionista e chegando a boicotar uma palestra de Marinetti em Lisboa, no ano
de 1932, que, descuidado, se juntou a Júlio Dantas ou ao autor da autoritária
«Política de Espírito» de António Ferro, e ao que de mais retrógrado se fazia
em Portugal. Não conseguiu juntar poetas ou pintores multiplicando-se em
revistas efémeras. Abominava a prosápia e a genuflexão política. Como ele disse
no seu Manifesto Anti-Dantas «Basta
PUM Basta! Uma geração, que consente deixar-se representar por um Dantas é uma
geração que nunca o foi! É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma rêsma
de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! PIM!». Olhamos, hoje, à nossa volta, e resta-nos
proclamar, algo desconsolados: Almada!
António Luís Catarino
29 março de 2017