terça-feira, junho 14, 2022

«Rachador», de Hélder Folgado, com posfácio de António Barros.

 





"Rachador", do madeirense Hélder Folgado, mas feito a várias mãos, foi-me oferecido pelo António Barros e logo o tornei "meu" no sentido mais emocional do termo. Trata-se de uma colectânea que é "um tributo ao artesão do vime da Camacha". Conto 1890 como a data mais antiga dos rachadores que aparecem em excelentes fotografias e para mais com o nome dos artesãos seus proprietários. Para que servia um rachador? Para descascar o vime e dividi-lo em três ou em quatro para que se utilizasse no artesanato da mobília característica da Camacha, tal como explica o autor, Hélder Folgado; é num texto final do próprio de que retiro o seguinte trecho: "(...) A mão é a ferramenta, motor de toda a transformação, e a ela associa-se o podão, o passador ou o martelo. Contudo, é o rachador que de entre as demais ferramentas me desperta interesse, não só por se tratar de um objecto talhado em madeira (de pedreiro, urze, bucho entre outras), por cada um dos artesãos - para se adequar ao formato da sua mão e servir de extensão desta - mas, também, pela sua forma e função: este objecto cilíndrico, ligeiramente arredondado no topo e com incisões nas faces laterais, era tudo quanto bastava para abrir agilmente, mas com a necessária mestria, uma haste de vime em outras três, por vezes quatro (em concordância com a espessura do vime), e assim obter a liaça. (...). " No texto final de António Barros "Mão Segura" pode ler-se " Se há uma mão que afirma hirta e incisa gerando o deslumbramento e a proliferação, há outra mão que segura precisa na delicadeza do equilíbrio e sustentação do rigor.
Esta lição, gerada no resgate que o olhar formula sobre o gesto, resulta estruturante, denunciando um ponto de tensão. Esta disciplina dos limites com que a mão, a outra mão, nos contempla, traz-nos a consciência de raiz. De raiz que comunga com o corpo e, nesse tanto, faz voltar ao corpo e à importância deste como lugar. (...) "
Ter este livro na mão é igualmente a extensão da nosso pensamento em objectos extraordinários, desconhecidos da sua utilidade por continentais, nós todos, mas reconhecidos como autênticos objectos de arte pura, primitiva, durável pelos tempos passados e futuros.

Não sei onde se pode adquirir este livro maravilhoso, mas tente-se a Câmara Municipal de Santa Cruz, na Madeira. Creio que haverá resposta.