segunda-feira, junho 17, 2019

Tamila Kharambura e Pinho Vargas. Na Orquestra Sinfónica do Porto

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Tamila Kharambura
Foto: Casa da Música


Sempre me habituei a ouvir a Orquestra Sinfónica do Porto e digo-vos que vale a pena ir ouvi-la na Casa da Música sempre que puderem. Os músicos mudam, os maestros também, mas consolida-se uma opção clara pela qualidade e pela fuga ao facilitismo. Parece que cada maestro que vai, deixa um rasto inesquecível. Lembro-me de alguns.

A última vez que a vi (e ouvi) foi há pouco tempo. Dirigida pelo maestro Pedro Neves, ouvimos as composições de Pedro Amaral, de Clotilde Rosa e de António Pinho Vargas. Se o primeiro se ouviu com prazer, a segunda levanta-me já algumas questões que possivelmente, para um leigo como eu, nada tem a ver com a harpista/compositora tardia. Segundo o que se percebeu Clotilde Rosa, que nos deixou em 2017, pertenceu ao ensemble de Jorge Peixinho que nos anos 70 os provoca desta maneira: cada um dos músicos comporia uma peça que, no final, se uniam numa única composição. Desafio aceite e Clotilde Rosa não mais parou com o «bichinho » da composição. Atenção que não era qualquer músico que tocava com Peixinho, portanto a qualidade da música/compositora é inquestionável, lembrando igualmente que a sua formação foi construída no Grupo de Darmstadt, com Boulez, Stockhausen e Ligeti antes de Peixinho. Portanto, mal de mim vir para aqui analisar isto ou aquilo. Falo, por isso, de emoções que a música me cria e particularmente a música concreta e contemporânea que sigo com alguma regularidade. Ouvir Clotilde Rosa foi bom, mas custa-me enquadrá-la na música concreta. São demasiados bombos, metais e tímbales que exportam a euforia da autora. É possível que nos anos 70 a alegria fosse a regra (foi e eu vivia-a) e as composições de Rosa tenham essa impressão. Ou seja, a harmonia está muito presente o que me fez interrogar e achá-las deslocalizadas. Só ultrapassei esse desconforto com a última composição (foram apresentadas três sem título) quando entrou o piano de Jonathan Ayerst. Mas aparte disto há uma terrível injustiça para com Clotilde Rosa. A Secretaria de Estado da Cultura encomendou-lhe desde 2007 várias obras que ela transformou em longas composições e óperas...nunca ouvidas! Só a Orquestra Sinfónica do Porto pela mão de Pedro Neves inaugurou este trecho. Uma vergonha, portanto, não sabermos mais sobre ela e principalmente as últimas composições.

António Pinho Vargas estava presente na Casa da Música e teve uma enorme ovação merecida com o seu Concerto para violino in memoriam de Gareguin Aroutionian cuja estreia foi a 7 de fevereiro de 2016 com a Orquestra Metropolitana de Lisboa no CCB. Pinho Vargas foi, é, e será sempre um compositor extraordinário. Dos poucos que já nos restam dessa geração. A ovação foi também por isso e ele sentiu-o. A surpresa final foi a apresentação de uma violinista do outro mundo: a ucraniana Tamila Kharambura. Não esqueçam este nome. Extraordinária. Eleva-nos sei lá para onde. Se não a conseguirem vê-la e ouvi-la ao vivo (vive em Lisboa de tempos a tempos), há um CD da sua estreia editado pela mpmp em 2017.

António Luís Catarino
Coimbra, 14 de junho de 2019