sábado, março 05, 2011

OS AMEAÇADOS, in Estranhas Criaturas, de Henrique Manuel Bento Fialho


OS AMEAÇADOS


Os ameaçados calam-se. Concentram-se nas tripas e omitem, fingem não saber, olham para o lado. Sabem tudo, vêem tudo, regam teorias com o cuspo das palavras. Falam em demasia aquilo que calam.
Os ameaçados plagiam as horas com fintas cheias de estilo. Preferem votar à ignorância o que julgam estar ao seu alcance. Eles não entendem o quão rasteiras são as suas vidas, que aos répteis foi atribuído o dom de: arrastar o corpo sobre a própria porcaria. Envolvem tudo num véu discutível e dizem sim ao flash, para à mesa discutirem com a família o ângulo perfilado de medo.
Engraxam os sapatos, por isso sujam os dedos. Vestem o melhor fato, frequentam casas de chá, pedem uma cerveja ao fim da noite e suspiram por fim o desgosto de estarem tão sós no seu rasteiro caminho.
Gosto dos ameaçados, quem mais lembra a ditadura do esquecimento. Gosto de os ver perdidos como cães cegos focinhando contra a vaidade.
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