quinta-feira, maio 04, 2006

Os ossos de D.Sebastião são os nossos

D. Sebastião é nosso defunto e a ausência dos seus ossos foi fatal para este povo, em 1578. Num momento crucial para a vida e destino dos portugueses torna-se evidente o trabalho aturado dos espanholistas em quererem azucrinar-nos as mentes, principalmente quando já se percebeu a plena recuperação económica, mental e, pasme-se, cultural, que aí vem. Todos percebemos já, o fino recorte da jogada de António Villacorta Baños-García, psicólogo e escritor, que está empenhado em demonstrar, através do estudo do ADN dos ossos do mais incompetente rei da nossa História, já de si parca, em grandes momentos, que será filho de quem foi e neto do avô, D. João III, o tal da Inquisição e da Universidade que é o mesmo que dizer que é a mesma coisa.

Por nós, apresentamos, aqui ao lado, o horóscopo do dito cujo rei-menino-guerreiro-esquecidodapátria que prova que ele sobreviveu à batalha de Alcácer (assim mesmo) e que morreu com a idade de 48 anos! Quais 23? 48, ou seja, ainda a muitos anos da reforma. Mas não fiquemos por aqui: é o próprio escritor-psicólogo-espanhol (bem diferente dos nossos escritores-jornalistas-portugueses) que nos diz que há uma lenda segundo a qual «uma princesa moura teria ajudado o rei português a fugir e este ter-se-ia refugiado nas Canárias, onde se casou e teve filhos.»* Só não sabemos se foi com a moura (ele há sempre uma moura), mas nestes casos até pode ter sido com a Pocahontas que não faria nenhum mal ao mundo.

Ora, tudo isto é muito estranho (hmm!). Como se não tivéssemos pensado nisso o escritor-psicólogo avança com mais uma contradição dos estudos já feitos até agora: «O que se passou no campo de Alcácer-Quibir a 4 de Agosto de 1958 (sic!) é até hoje um mistério. Há vários relatos segundo os quais D. Sebastião teria morrido (e nós a pensar que não!), mas só no dia seguinte, a pedido do novo sultão, Muley Ahmed, é que teriam ido procurar o seu corpo entre os milhares de cadáveres deixados no local da batalha.» E continua «Estávamos em Agosto, o calor de África era intenso (fónix!) quando ao fim de dois dias se tenta identificar o corpo, este quase não é reconhecível (argh!).»*
Mas, dizemos nós, aí é que se engana - «quase» irreconhecível! Não tinha Saddam um duplo? D. Sebastião não teria um? Era Ahmed amigo dele? Afinal a moura, a tal moura, poderia ou não ser a irmã, uma mulher do seu hárem, uma tia solteira? E as Canárias? Quem são os nobres descendentes de D. Sebastião? Saramago? Pilar? Enfim, assusta-me o facto de tanta pergunta ficar sem resposta. Pior: poderem ser respondidas será o nosso fim como país e cultura. Lá se vai a identificação. Nem com o ADN dos ossos do rei-menino-guerreiro nos salvará de saber que somos todos seus filhos.
* Público de 4/05/06

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