Camille Claudel (1864-1943)
Uma fotografia da jovem Camille Claudel faz-me introduzir uma tema que me é caro: o das biografias. Camille Claudel era uma mulher bonita e, além disso, uma escultora que teve como mestre e professor Auguste Rodin que exerceu sobre ela um poder pessoal e profissional bem comprovado pelos factos. Hoje, chamar-se-ia extrativismo intelectual e artístico a forma como Rodin tratou a sua jovem aluna. Não mostrarei aqui a fotografia, existente na nuvem digital, do estado em que se encontrava após 30 anos (!!) presa num hospício francês e depois de várias missivas a rogar pela sua liberdade. Paul Claudel, seu irmão e poeta católico, não sai bem nesta história. Aliás, sai mesmo muito mal e o filme «A Paixão de Camille Claudel», com Isabelle Adjani e Gérard Depardieu não é suave para com aquelas personagens masculinas.
É, contudo, uma fuga à regra a que eu próprio me impus. Vi este filme, é certo, mais por curiosidade ocasional que crescia à medida que as imagens e as situações se sucediam, do que saber, através dele, a vida de Camille Claudel de que conhecia, em catálogo, já algumas obras e parte da sua vida coartada inutilmente pelos familiares e por Rodin que invejava o seu fulgor escultórico.
Não leio biografias por sistema e menos ainda as chamas «cartas de amor» de artistas ou poetas que me foram importantes e, pelo que experimentei, nas poucas que li, souberam-me sempre a pouco, ou achei demasiado tendenciosas ou mesmo inverosímeis. Daí, ter lido com algum tédio misturado as cartas de Fernando Pessoa à Ofélia e nem sequer tive interesse, mínimo que fosse, em ler as cartas de amor entre Paul Celan e Ingeborg Bachmann, entre António José Forte e Amélia Bento, ou as de Proust, de Annemarie Schwarzenbach, de Virgina Woolf, de Oscar Wilde ou as de Nietzsche.
Agora, surgem-me duas biografias de autores portugueses que requerem algum fôlego para as aceitar e que, por isso, nunca lerei, porque conheci as suas obras, os seus escritos, desde os anos 70. São elas as de Herberto Helder e Luiz Pacheco. Extratos que li, por aqui e ali nos media, dizem-me que será melhor nem iniciar a sua leitura. Não me interessam. Pouco acrescentam e, quando o fazem, é irrelevante para uma ideia, mesmo que irreal, do que deles li. Já antes, tomei conhecimento da existência de duas biografias de Fernando Pessoa me passaram completamente ao lado e assim vai continuar. Mas abro exceções evidentes: ler uma biografia de Camões por Aquilino Ribeiro é outra coisa, tal como as de autores que identificam a época e as geografias em que viveram e que não foi a minha. Aí, concedo o conhecimento dos escritos e tenho revisitado autores comparando a sua vida com o que escreveram sobre o mundo, o mundo dos próprios que, por motivos claros, nos quiseram transmitir, transformando aquilo que seriam meras autobiografias em peças literárias imprescindíveis.
alc