segunda-feira, abril 14, 2025

Florença

Florença, um dos pólos culturais mais significativos da chamada civilização ocidental apresenta, orgulhosa e impante, as cenas de violência comuns cá na casa: cacetadas de porrete, facas afiadas, espadas que decepam tudo, olhares desafiantes, raptos e violações de mulheres; Perseu corta a cabeça de Medusa, David contra Golias que o mata e decapita, a vingança sanguinária de Artemisa, Hércules parte a espinha a Centauro, Aquiles jaz morto com Ajax e este a arfar de vingança, as Sabinas sofrem às mãos dos romanos. Lá dentro da Uffizi jazem crucifixos e dor, torturas a Santa Catarina com rodas dentadas, a Santo Estêvão esfolado, a S. Sebastião espetado. E isto não acaba nunca...

Só me resta acalentar a esperança que isto tudo é só reinação para o estrangeiro ver: os budistas do Japão, os xintoístas da China, os lamas do Tibete, os hindus, os ameríndios do norte, os africanos, que pensarão deste tipo de arte degenerada?
E um tipo recua até à Piazza della Signoria e repara que calca uma estela: lê que foi ali que queimaram vivo Savonarola, o tal que durante quatro anos criou uma república cristã onde tudo era proibido, onde se seguiam as leis rígidas das escrituras. Literalmente: fogo!