sexta-feira, novembro 30, 2018

Bienbenidos an Pertual 11

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Nos finais de julho, desloquei-me a um concelho irredutível que teima em falar a sua «lhéngua» apesar do domínio cultural de Portugal e de Espanha: Miranda do Douro. O título desta pequena crónica vai, pois, para o «probo» (orgulhoso) mirandês de raiz proto-latina, latina e asturo-leonesa, resistentes à força centrípeta de Castela. A razão pela qual viajei até lá, foi para assistir ao Festival Itinerante da Cultura Tradicional «l burro i l gueiteiro» e ouvir as vozes femininas das «Segue-me à Capela» e dos mirandeses dos «Galandum Galundaina». Se o primeiro grupo se baseia na recolha das vozes populares minhotas, beirãs, sefarditas e transmontanas, o segundo grupo canta somente em mirandês. Foi formidável. Só se dá valor à maravilha que é ouvir cantos, alguns já perdidos nos tempos, quem os ouve ao vivo. Mas a estória foi esta: enquanto esperávamos pelo espetáculo noturno e ao calor abrasador do planalto eu tinha várias hipóteses de sobrevivência: beber cerveja numa taberna de Palaçoulo, aldeia que recebeu o festival este ano e ver o Benfica, ou escolher entre dois «workshops» promovidos simultaneamente: um, sobre o burro mirandês em perigo de extinção, outro sobre a «lhéngua mirandesa». Sem pôr de lado a opção cerveja, optei por este último. Bingo! Três horas e meia de aprendizagem da língua liderado por Alfredo Cameirão. Entre palavras verdadeiramente poéticas como cinta de la raposa (arco-íris), caramonos (bonecos) paixarina, (borboleta), etc. ou mais algumas regras ortográficas que os leitores podem consultar na Biquipédia (a Wikipédia mirandesa), veio o desânimo sobre as linhas políticas adotadas para esta língua: como será possível que num universo de 7500 a 10000 falantes de mirandês em todo o país e imigração e após o reconhecimento oficial da língua mirandesa pelo governo (Dec. Lei 7/99) não se aumente o número de três professores (!!) de todo o concelho (7500 almas) para 475 alunos por ano. Pior: desde 1998 que a Unesco criou a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias onde se inscreve o mirandês, sem que Portugal a tenha sequer assinado (a Espanha obviamente assinou-a). O que leva a este boicote de um «Pertual ye hoije un paíç zambolbido, eiquenomicamente próspero, social i politicamente stable i cun Índice de Zambolbimiento Houmano eilebado. Ancontra-se antre ls 20 países de l mundo cun melhor culidade de bida, anque l sou PIB per capita ser l mais pequeinho antre ls países de la Ouropa Oucidental. Ye nembro de las Naciones Ounidas i de la Ounion Ouropeia (na altura de la sue adeson an 1986, CEE), i nembro-fundador de la NATO, de la OCDE, de la Zona Ouro (€) i de la CPLP»(1) ? Sim, digo eu, somos «pequeinhos», embora, paradoxalmente, na «zona ouro», claro!
(1)      – in Biquipédia, Páigina Percipal

António Luís Catarino 21/08/2017