terça-feira, agosto 02, 2022

Livro preso por um fio

Não tenho por hábito escrever ou fazer qualquer ficha de leitura de livros que não gosto, ou que ache mal feitos, com erros de português ou escritos com interesses inconfessáveis. Li com algum tédio «Presos por um Fio» sobre as FP25, de Nuno Gonçalves Poças. Com prefácio de Paulo Portas! São os dois entendidos em tudo, portanto tudistas. O nome do autor nada me dizia até encontrá-lo na televisão falando célere, mais célere que os pensamentos que lhe vinham à boca. Creio ser na SIC que o homem vai buscar os recibos verdes. 

Vem isto a propósito pela confusão (pensada e repensada?) que ele faz de organizações, datas e situações, misturando tudo no mesmo saco personagens que nada tiveram a ver com o processo. O que faz ali Camilo Mortágua relacionando-o com as gémeas deputadas, suas filhas, não consigo atingir. Se há alguém que está longe das FP é ele, mas assim como assim lá vai o nome que talvez cole. Tal como a LUAR, que nada teve a ver com a FP, mas sim com o PS nos anos quentes do PREC. Mas embora lá, que esta organização dividiu-se em dois o que dá sempre jeito para que a fação dita «conselhista» esteja por detrás da luta armada dos anos 80! Creio não errar afirmar que já não existia, assim como o MES com nomes como o Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues e coiso e tal... para ousar ligá-los ao chamado terrorismo, também se lá põe o nome, assim como como o de Catalina Pestana que saiu logo no congresso inaugural das FUP/OUT. 

Não se trata aqui de defender o que quer que seja, mas lembrar ao tudista Poças que o país esteve à beira da guerra civil e que houve crimes da extrema-direita que ele, só muito a custo, cita, mas não enumera, nem diz nomes. Aliás só fala de dois: Ramiro Moreira e Cónego Melo. E fá-lo depois de citar o livro de Miguel Carvalho «Quando Portugal Ardeu»! Como se fosse possível desligar um processo violento de assassinatos, bombas e ataques a casas particulares e sedes pela extrema-direita do aparecimento da violência da extrema-esquerda. Chega ao ponto de quase tornar uma nota de rodapé a assassinato em Vila Real do Padre Max e da estudante Maria de Lurdes, sem sequer lhes citar os seus nomes! O que está aqui presente é uma tentativa de levantar o espectro do «terrorismo de esquerda» como se fosse o alfa e ómega de todo o processo de luta armada e de violência organizada em Portugal. Não foi, como Poças sabe, mas não quis dizer.

Sobre os «arrependidos» baralha e torna a jogar como se fossem «dissidentes». Há nomes que são confundidos propositadamente, ou então e o que me parece mais verosímil é que este livro tem como objetivo uma nova cruzada de caça à esquerda. E feito em cima do joelho. Com a profundidade de um trabalho elaborado por uma turma do 12º ano e com fontes muito problemáticas de aceitar.

Ah, e onde se «escondem» os que assaltaram bancos, carrinhas de valores, fábricas e empresas? Aliás, diga-se que o livro a certa altura parece um deve e haver de contabilidade tal é a obsessão do autor pelas quantias roubadas em contos e o que valeriam hoje em euros!! Mas onde estão os criminosos? No BE, claro que lhes dá guarida, alguns em Assembleias Municipais e outros, vejam bem, directores de Agrupamentos! Repito que fosse bom, para um livro sobre o tema ter referido e procurado melhor outras fontes mais fidedignas, confrontá-las e usar uma cronologia coerente. Alvitrar nomes de eventuais operacionais na morte de um diretor prisional também não me parece ser uma boa prática para quem se quer pôr em bicos de pés na História ou no Jornalismo. Fique-se pelo tudismo...