terça-feira, abril 05, 2022

« O Novo Niilismo », Peter Lamborn Wilson

 

Barco Bêbado, 2022
Com tradução e notas de Joana Jacinto, ensaio visual de Vasco Barata e edição sob a responsabilidade de Emanuel Cameira, mais um interessante livro da Barco Bêbado. Desta vez, «O Novo Niilismo» de Peter Lamborn Wilson, ou Hakim Bey, nome que também utiliza nas suas publicações. Não sendo completamente desconhecido, visto que já se tinha publicado as suas «Utopias Piratas» na Deriva e com publicações avulsas em jornais e revistas anarquistas e libertárias. Tenho para mim, que sou um leitor pró-compulsivo, que quando adquiro um livro é com variados objectivos que não vou agora enumerá-los; este, obriga-me a pensar e perguntar-vos se a catástrofe anunciada já se iniciou há anos e estamos ainda na fase da pré-história do desastre. Portanto, não deixa de ter sentido uma forma de neo-niilismo que nos leve a uma forma radical de actuação social apontando os seus culpados e construindo alternativas nómadas e temporárias.

Este livrinho parece, contudo, um desabafo em forma de manifesto que Peter Lamborn Wilson não esconde no seu início; logo depois, coloca toda a esquerda (e mesmo os próprios libertários) e as suas práticas políticas e sociais em causa. O desânimo e o desinteresse sobre todas as todas as coisas levou muita gente boa a afastar-se do activismo que se consubstanciou, por exemplo, no movimento Occupy. Num mundo cuja catástrofe já se iniciou e que se vai agravar cada dia que passa propõe-nos três caminhos alternativos, enfatizando a criação de TAZ (acrónimo de Temporary Autonomous Zones) que são, com algumas pequenas diferenças, as ZAD europeias que têm tido algum êxito no combate à prepotência do Estado, mais concretamente o do francês.

Também o neo-primitivismo de Paul Goodman, entre outros, é colocado em destaque, desencadeando interesse no debate em torno da questão do survivalismo que Wilson realça. O neo-niilismo reside precisamente nas possibilidades reais de sobreviver ao caos que se instala e que o capitalismo espoletou. Um livro importante que pode ser uma alavanca de debates em espaços alternativos. Seria bom que o discutíssemos colectivamente.