No início dos anos 80, o sociólogo Michel Pialoux conheceu
Christian Corouge, operário e sindicalista nas fábricas Peugeot, em Sochaux
(França). Ao longo de largos anos, eles mantiveram um diálogo sobre os pequenos
nadas que preenchem o quotidiano do trabalho fabril, a entreajuda, galhofa e
convívio entre colegas de trabalho, as resistências e increpações perante as
tentativas de controlo patronal. A partir da história singular de um operário,
o que, por si só, vem pôr em causa as concepções que tendem a anular a subjectividade
dos próprios trabalhadores, são trazidos para o primeiro plano todos os
aspectos que fazem do trabalho o que ele realmente é, sejam as vicissitudes que
representa organizar uma manifestação sindical a exigir uma melhoria das
condições de trabalho, seja o suicídio de um colega que não pôde mais suportar
as humilhações da gerência, seja ainda o orgulho sentido em preservar
intransigentemente a dignidade pessoal contra todas e quaisquer intrusões e
pressões.
«Aqui estão “lançadas sobre o papel as palavras da língua
falada”, palavras simples, por vezes brutais e frequentemente cómicas: as
palavras de Christian Corouge, operário da fábrica Peugeot de Sochaux e
delegado sindical, trocadas com o sociólogo Michel Pialoux por ocasião de
entrevistas gravadas entre 1983 e 1986. Corouge analisa os métodos Peugeot de
gestão da mão-de-obra, as técnicas de repressão dos militantes bem como as
técnicas de resistência, a convivialidade entre operários, indissociável do
sucesso de uma greve. Resistir no local de trabalho é também ultrapassar o
horizonte estreito que ele poderia impor ao formular um questionamento político
sobre a representação dos operários e a delegação do poder, sobre as relações
com os intelectuais e com a cultura, sobre o lugar das mulheres e dos
imigrantes.»
Célestin Saldana, «Compte rendu», Le Monde Diplomatique,
Dezembro de 2011.
«Christian Corouge, operário da Peugeot, dialogando com o
sociólogo Michel Pialoux, traz um olhar singular sobre as desilusões da causa
operário no último terço de século. Um caso exemplar de produção intelectual
partilhada entre um artesão do intelecto e um pensador da actividade operária.
(…) Estando para lá do simples testemunho pela sua reflexividade, a pesquisa
comporta um interferência original, explícita e cultivada, entre aspirações
sociais e ciências sociais. Desde quando foi realizada, ela contribuiu para a
renovação na etnologia e na sociologia das investigações sobre a sociedade
francesa, e daquilo que podemos designar por movimento etnográfico francês.»
Nicolas Hatzfeld, «Da la chaine à la plume», La Vie des
Idées, 5 de Setembro de 2011.