quarta-feira, julho 31, 2013

Sobre Bartlebys Reunidos, Ricardo Gil Soeiro diz-nos...



De Ricardo Gil Soeiro, autor de Bartlebys Reunidos, recebemos estes pensamentos/registos que apontam para a continuação do seu projecto poético. Que sim, dizemos nós:

(...) A minha opção é, todavia, outra. Se parto em busca de uma re-humanização poética do sentido, tal não significa que me renda a uma arte de vocação totalizadora: só compreendo a plenitude do sentido à luz das fracturas, das sombras que se insinuam por entre as nossas aspirações mais genuínas. Na entrevista que vai sair muito em breve explico essa questão de uma maneira clara: por um lado, dou conta do meu fascínio pelas intersecções metamórficas (pelas máscaras, pelas metamorfoses e pelos simulacros que marcam presença nos meus poemas), enfim, pelo espírito irónico de uma pós-modernidade que nos veio confirmar que as grandes narrativas se desmoronaram e que o anjo da História nos olha com uma justificada desconfiança; por outro lado, faço igualmente menção aos múltiplos tons que ressoam no nosso livro dos Bartlebys. Num texto em prosa, inédito, que escrevi aqui há algumas semanas detenho-me sobre essa problemática que me parece essencial. O texto de duas páginas intitula-se “Signos de ninguém: gaguejar em órbitas deleuzianas”. Aí encaro o acto de escrever como um arriscar em constante desequilíbrio: se um estilo, como diz Deleuze, é conseguir gaguejar na sua própria língua, então o acto de escrever deve produzir velocidade, diferentes velocidades. Os tais tons distintos que sublinhei.   

É por isso que todos os poemas do livro são profundamente diferentes entre si – a despeito da unidade conceptual em que se ancoram. O mesmo sucede com o primeiro volume da tetralogia, “Da vida das marionetas”, que se centra sobre a figura inanimada. Não só esse livro é distinto deste livro sobre os bartlebys, como nesse volume em particular se assiste a um registo dramático, dialógico, de um eu (a marioneta em metamorfose) e um tu que se encontra, de poema para poema, em profunda transmutação. Mais uma vez: os múltiplos tons, as múltiplas vozes, as múltiplas máscaras. Vestir diferentes peles, habitar diferentes “caosmos” (como queria Joyce).


É isto que me interessa fazer. Não o tal lirismo forte de uma subjectividade que canta, mas desenhar um rosto polimórfico que se desdobra em diferentes urdiduras textuais: e que essas urdiduras textuais possam abrir novos horizontes de sentido. Um outro projecto que terminei há uma semana constitui um bom exemplo do que quero dizer: chama-se A rosa de Paracelso e é um extenso poema baseado no conto homónimo de Borges. É um único poema (35 páginas) que se inicia justamente com a alusão ao episódio final do relato borgesiano: quando aí se concebe que Paracelso terá logrado recriar uma rosa pela palavra. Ou seja, aqui é já uma outra voz que pretendo explorar: convoca-se uma reflexão metapoética que aposta no poder demiúrgico da palavra, mas que, simultaneamente, acolhe a condição inerentemente paradoxal que atravessa a criação poética.

Ricardo Gil Soeiro, 30 de Abril de 2013

Pedidos a infoderivaeditores@gmail.com. 11,50 euros