domingo, setembro 18, 2011

Teatro Art'Imagem apresenta "Um punhado de terra", de Pedro Eiras


Depois da estreia em Mindelo, Cabo Verde, o Teatro Art'Imagem apresenta de 22 de Setembro de 2011 a  2 de Outubro de 2011, na Sala Estúdio Latino, Porto,  Um punhado de terra, de Pedro Eiras
“Além do equador tudo é permitido” - (provérbio português da época dos descobrimentos)

Pântano. Em todo o palco, vinte centímetros de terra barrenta. Vem, do horizonte à boca de cena, um homem negro. Os pés mergulham na lama. O homem coxeia da perna direita. O homem vem, devagar. Chega à boca de cena. E diz: Toma o meu corpo senhor do fogo! Vem e devasta esta terra estrangeira! Este homem negro é um escravo trazido à força de África para uma terra de que nunca ouvira falar – Portugal. Ele nos dirá, num português ainda mal apreendido, mas de imagens poderosas e numa linguagem poética singular, à moda de um contador de histórias de tradição oral africanas, como um dia chegaram à sua aldeia os homens brancos “feios, com cabeças de metal e pele de ferro, por sobre a pele cor de leite velho estragado”. De como lhe mataram a mulher, os filhos e os amigos, de como destruíram a sua aldeia e aniquilaram o seu povo.De como foram levados, sobre as ordens de uma tal “o infante”, num grande barco maior que “montanhas de madeira” para estas terras de desterro.É tal a sua solidão e a sua tristeza que o homem negro, despojado do seu punhado de terra evocará e pedirá aos seus deuses a morte e a maldição dos estrangeiros e seus descendentes, responsáveis pela sua desdita e a destruição do seu povo. E, é ainda com a terra estrangeira que o homem negro se despede da vida e da sua terra.“O homem negro apanha terra do chão e come. / Volta a apanhar terra. Come. / O homem negro come terra. / Come, come...”Alguns caminhos da encenação: A procura de um espaço não convencional para a apresentação do espectáculo; Um palco quase vazio, em que as luzes e as sombras se conjugam como elemento cénico decisivo. Talvez terra, talvez barro, ou, a tradução teatral desses elementos. Um trabalho centrado na voz, no corpo e no movimento do actor.
José Leitão (encenador)
imagem de Pedro Ferreira
Sobre “Um Punhado de Terra”: É muito tarde, tarde de mais, mas ainda podemos ouvir estes pés negros que chegam da escuridão, tacteiam a terra, a medo, esta voz que chama pelo seu deus e tem uma história a contar e um pedido a fazer, ainda vamos a tempo de - pelo menos - contar outra vez a história que nunca foi contada, que foi sempre transformada em marcha militar, datas, mapa, quando muito desculpas tingidas de má-fé, contar, ouvir.
Essa voz, ouço-a há muito tempo. Um dia, escrevi o que ela dizia. Por palavras minhas. Era um punhado de terra amarga, que eu devia comer. É tarde, tarde de mais, mas ainda podemos ouvir, ainda é cedo.
Pedro Eiras (autor)


ficha artística e técnica


» Texto Pedro Eiras » Encenação José Leitão » Interpretação Flávio Hamilton » 
Espaço Cénico » José Leitão e José Lopes » Desenho de Luz » Leunam Ordep  

» Produção Teatro Art'Imagem
» Direcção Artística José Leitão » Direcção Técnica Pedro Carvalho » Direcção de Produção Jorge Mendo

99ª Criação do Teatro Art' Imagem - 2011

Classificação Etária: M/12
Bilhetes: €5 ou €3 (cartão jovem, sénior, estudante, profissionais do espectáculo ou grupos organizados).




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