quinta-feira, maio 06, 2021

David Priestland: sobre o trabalho e a distribuição capitalista e socialista na «estagnação»

David Priestland

«Michael Burawoy encontrou decerto uma ira para com as desigualdades muito mais forte entre os trabalhadores do mundo comunista do que nos países capitalistas. Os operários da Fundição de Aço Lenine em Miskolc, na Hungria, e os da fábrica Allied em Chicago queixaram-se ambos do encerramento das antigas fornalhas de aço. Porém, embora os trabalhadores americanos se confrontassem com a perda dos seus empregos, ''continuavam a não ver grande defeito no capitalismo''. Ao mesmo tempo, ''paradoxalmente, os operadores de fornalha da Brigada Revolução de Outubro, embora mais ou menos isolados da ação destrutiva do mercado mundial e incapazes de compreender o que significa ficar sem emprego, sabem muitíssimo bem criticar o seu sistema'', e passam muito tempo a condenar as hipocrisias do socialismo. A solução para este paradoxo reside num outro paradoxo: não obstante o secretismo político e a propaganda distorcida que envolvia os regimes comunistas, o sistema era na verdade muito mais transparente do que o capitalismo. (...) o Estado [socialista] investia numa fábrica e os trabalhadores produziam um «excedente» que era depois arrecadado pelo Estado, que pretendia distribuí-lo com justiça para o bem da sociedade. Assim, quando os operários viam os chefes a conceder privilégios a si mesmos, aparentemente imerecidos, sentiam-se zangados e explorados. Sob o capitalismo, é muito difícil ver para onde vai o lucro ou com que justiça está a ser distribuído. Não surpreende que os trabalhadores criticassem normalmente os sistemas socialistas por não serem suficientemente socialistas.»

David Priestland, «A Bandeira Vermelha - A História do Comunismo», Cap. 10 ''Estagnação''. pp 530, 531.