domingo, junho 21, 2009

Hoje, ao folhear o Público

A Estufa de Carla Gonçalves
acrílico sobre imagem de jornal e filtro

Primeiro apontamento - Vasco Pulido Valente, de quem gosto de ler, escreve sobre «O Aviso dos 28» em que algumas luminárias indígenas (para usar uma sua expressão muito cara em anteriores crónicas, mas que nesta, e estranhamente, não utiliza) opinam sobre a (não) continuidade das obras públicas que estavam na carteira de Sócrates. Não está em causa as ditas obras sobre as quais nunca concordei e, tal como eu, a grande maioria dos portugueses. Para complicar mais, não acredito que esta «grande maioria dos portugueses» em alguma ocasião se tenha preocupado com a falta de plano para a educação, cultura ou para uma política sustentada de emprego. Sócrates não o fez, como aliás veio a reconhecer titubeante e humilde. Percebemos. O que não entendo é o afã de Vasco Pulido Valente em justificar a «elite incontestável e prestigiada» (tal qual ele disse) destes figurões, a saber: Cadilhe, Silva Lopes, João Salgueiro, Mira Amaral, Daniel Bessa ou Beleza! Elites? Mas bastava a VPV rever as suas anteriores crónicas e lembrar-se do que disse destas mesmas elites tugas... depois, será necessário uma grande ginástica para reconhecer estas «luminárias indígenas» (agora repito eu com gosto) como elites de alguma coisa. Sabem o que lhes falta? Estarem no Parlamento, serem eleitas, andarem em campanha, irem aos blogs, aos jornais, «falarem» connosco, chafurdarem...

Segundo apontamento - A ministra da Educação veio tentar convencer-nos que é um gesto grandiloquente e magnânimo da sua parte a suspensão da avaliação de professores «complex» em subsituição de uma «simplex». Isto depois de ter quebrado ainda mais o que existia de educação em Portugal e depois de manifestações inesquecíveis da classe de professores e de «elites» a opinar que o sistema era inaplicável. Serão necessárias dezenas de anos para voltar ao que tinhamos - que era mau, muito mau, não esqueçamos. Mas a sua esperteza saloia vai ao ponto de questionar «humildemente» uma Comissão Científica de avaliação, nomeada por ela, se terá, ela, a ministra, razão em suspender o dito processo «complex». Adivinha-se a resposta da tal comissão, mas mais uma vez pergunta-se: essa comissão tem assento no parlamento, foi a votos, fez campanha ou «falou» connosco? Então por que terá de ser decisiva a sua opinião, para uma decisão política que só caberia a Maria de Lurdes Rodrigues? Até na derrota lhe falha a frontalidade.

Terceiro apontamento- Alexandra Lucas Coelho, hoje, no Público, diz das boas a Helena Matos, quando esta ousa duvidar da existência de Delphine Minoui e Bourzou Daragahi que, em Teerão, reportaram as manifestações de revolta contra Amadinedjadh. Segundo HM, é a mania de tentar ver as sociedades orientais pelos olhos castanhos do Ocidente... já em Tiennamen, há 20 anos, ouvi monárquicos a argumentar que a China era muito, muito mais que aqueles estudantes revoltados em Pequim. Apelavam a uma China profunda, conservadora. Pois é. Tal como hoje em Teerão. Será HM uma candidata a membro da «elite» tuga? Ou já o é?