terça-feira, agosto 30, 2011

Uma não-efeméride de Castro Caldas:«-Fazes cá falta, Joaquim!»


Foto de António Pedro Ribeiro

Não sou dado a saudosismos. Evito sempre a efeméride e a lembrança da pequena data. Há, no entanto,a de hoje que não me sai da cabeça e que me diz que o Castro Caldas se foi há 3 anos. Comprei-lhe o Português Suave, em 1977, no Tropical em Coimbra. Bebíamos cervejas ininterruptamente e falávamos dos sonhos de quem tinha 20 e poucos anos, poesia sempre incluída. A ele acrescentava-se o teatro. Perdi-lhe o rasto durante anos e vim a encontrá-lo no Porto, já doente mas sem queixas e com um sentido de humor que não tinha perdido. Ria com os títulos dos novos «romances». ria com a «nova» poesia, daquela que recusava a declamação, a rua ou o vão dos bares. É disso que me lembro do Caldas: da vontade de viver e da realidade contraposta que os médicos impunham nas visitas que fazia ao Santo António. Nunca deu de si. Lembrava-me, nos cafés das Antas onde queimavamos tempo como só ele sabia fazer com a qualidade necessária de quem tinha todo o tempo do mundo, algumas cenas passadas com a Juliette Greco, com Leo Ferré (que o viu a declamar em Paris o Avec le Temps, na rua) ou com Ary dos Santos. O Joaquim faz-me falta e à Deriva. Numa época onde a poesia é cada vez mais esquecida ao ponto de a termos suspendido este ano que passa, o Castro Caldas faz falta. Para dar alento. Para nos fazer acreditar que a poesia tem de ser sobretudo vivida todos os dias. De qualquer maneira, o Mágoa das Pedras aí está editado por ambos e com a alegria de quem escolheu os poemas, como este:

Espero que haja música
no espaço mítico da morte
a água não corre na fonte
a erva não cresce no monte
não cheira a pó de Alexandria
nem áspero nem seda
os sentidos não circulam
como o sangue e a seiva
a liberdade é uma varejeira
os poemas são peidos
a citar arrotos velhos
e querem que os putos comam
a carne seca dos navios?
aprendam a vida sexual
dos abutres à mercê dos cânticos?
a intervenção mais juvenil
é o boicote à criação arrumada
só tu és o mestre da tua vontade
só tu és o aluno da tua árvore
espero que entre o bem e o mal
a tua amada musa dance dance

Poesia, in Mágoa das Pedras, Deriva, 2008

sexta-feira, agosto 26, 2011

Ler é, ainda, o melhor remédio: duas sugestões da Argentina.

Ler ainda é o melhor remédio... Aqui na Deriva, propomos-lhe que vá umas horas até um Magic Resort ou então que escape para Nenhum Lugar. Vale a pena evadir-se, lendo.



Ele adorava andar por diferentes lugares. A vida sedentária era algo que tinha abandonado há muito tempo, e ter de dar explicações parecia-lhe deplorável. As suas viagens duravam um mês, e no princípio contar com esse tempo de solidão resultava-me agradável e produtivo. Estavam a encarregar-me boas traduções e trabalhava com prazer. Tomava o pequeno-almoço no escritório, saia a passear durante a tarde, e voltava a traduzir até de madrugada. Além disso, parecia-me excitante esperar o reencontro e deixar que me sequestrasse de férias quando chegava.
 Um ano depois, tinha a impressão que os meus dias eram mais solitários do que tinha desejado. Comentei um par de vezes a Marcia o meu descontentamento, e conseguiu convencer-me a começar uma terapia. Escolhi um psicanalista que me disse para ir duas vezes por semana. Nunca me senti cómoda no divã. Costumava perder-me num rosário de anedotas infrutíferas, ou então cansava-me do silêncio e adormecia. Uma vez acordei sobressaltada, vociferando que me afundava num lugar que não desejava. Vá-se lá saber o que interpretou, mas foi a sua melhor intervenção. Descruzou as pernas e disse-me: “Compre um caderno e escreva o que quiser. Trabalharemos com esse material. [Magic Resort, Florencia Abbate]


- Chamo-me Mauricio e tenho vinte e sete anos, e amanhã vou rir-me disto tudo, que me chamo Mauricio e tenho vinte e sete anos.

Antes de acabar a frase Mauricio percebeu que tentar tranquilizar-se falando não tinha sido uma boa ideia. No silêncio da noite escutou a sua voz, e foi-lhe tão estranha, tão alheia, que a custo pode controlar o impulso de abrir a porta e afastar-se a correr do carro. Num segundo conseguiu pensar, “não devo correr, não devo correr”, e com a mão na fechadura viu-se fugindo com grandes passadas, sem correr, caminhando a alta velocidade, o corpo duro e torpe tentando acelerar o passo sem desatar a correr. Ainda com a mão na fechadura, foi invadido por um ataque de riso. Riu-se durante vários minutos e, quando pode por fim controlar-se, descobriu-se cansado e sem medo. Talvez agora pudesse voltar a dormir, pensou, enquanto fechava a janela porque começava a sentir o frio." [Nenhum Lugar, Ricardo Romero]

segunda-feira, agosto 22, 2011

É o Estado, estúpido!



Existe uma mentalidade medieval, fruto ou não do protestantismo anglo-saxónico, na decisão de dar quatro anos de prisão a dois adolescentes ingleses que nem sequer estiveram presentes nos motins de agosto. Antes, somente, tinham «incitado» no Facebook à destruição da sua cidade o que nunca veio a acontecer, diga-se. Já um outro adolescente tinha levado com seis meses de prisão por ter sido encontrado pela polícia com dez garrafas de água roubadas... Não é este o espaço para grandes debates sobre o fenómeno. Mas não deixa de ser curioso o silêncio da maioria dos escritores sobre isto: então «escreve-se» que a sua cidade deve ser destruída e é-se condenado? Então até que ponto a liberdade de expressão é consagrada por lei? Se disser que Coimbra, ou outra qualquer cidade, deve ser implodida depois da efectiva destruição que esta sofreu após a intervenção de presidentes das câmaras e de empreiteiros sem escrúpulos e em eventuais motins se vier a verificar explosões sucessivas, sou condenado por incitar ao ódio? Por outro lado, olhando para estes adolescentes que espero tenham um advogado à altura, e de qualidade, como tiveram os deputados ingleses apanhados este ano a gastarem e a abusarem de cartões de crédito em grandes e pequenas despesas dá-me a impressão que não se tratam de penas para mostrar a inflexibilidade do estado perante simples malfeitores, mas antes o ponto final de quem tem liberdade ou não para poder fazer as coisas, todas as coisas, que vierem à sua cabeça seja roubar ou não, porque aí a generalidade dos políticos o pode fazer sem qualquer pena acessória. Espero que os adolescentes ingleses tenham percebido quem têm pela frente. É o Estado, estúpido!!

Kafka – Um livro sempre aberto [Colecção Cassiopeia]



[…] a identidade ficcionalizada que Kafka constrói para si constitui, ela própria, um eco de múltiplos modelos de masculinidade epocais, que ele projecta nas suas vivências, como se de um espelho se tratasse. Além disso, com os seus comentários autobiográficos, induz no leitor uma interpretação para os textos, numa mistura entre realidade e ficção, de fronteiras também elas difusas e movediças. A situação pessoal de Kafka adequa-se realmente a essa indefinição e oscilação. Falante de alemão numa cidade de língua maioritariamente checa; filho de um judeu parvenu numa escola e numa sociedade elitistas; dividido entre o Judaísmo assimilado e o fascínio da ortodoxia judaica e da linguagem cabalística; herdeiro das tendências artísticas da família da mãe numa casa dominada por um pai autoritário e orientado para a vida prática, a sua situação é a um tempo real e produto de uma encenação.

Recordem-se, como prova dessa ficcionalização, as referências intertextuais e as influências inspiradoras de textos literários e de comportamentos culturais da sua época e meio sobre as masculinidades que encena como suas e das suas personagens. De facto, a figura do amigo, o destino de Gregor Samsa e o comportamento de Karl Rossmann parecem ser uma ilustração do homem judeu tal como o descreve Otto Weinrich em Charakter und Geschlecht (1903), com sinais de perversão e efeminização, tendencialmente homossexual. Todavia, e pesem embora tratados epocais, a homossexualidade não era na época vista apenas como apanágio dos judeus. No final do século XIX, O homoerotismo era conhecido como "le vice allemand': e o escândalo da "Harden-Eulenburg-Affaire" fez cair a suspeita do homoerotismo até mesmo sobre a figura do jovem Imperador Wilhelm II. A este propósito, Christine Kanz refere que também os escritos do filósofo e escritor Karl Blüher, comprometido com a fundação do movimento dos "Wandervõgel': tratam a homossexualidade como uma constante nas formas de relacionamento masculino em círculos como os do exército, e terão marcado Kafka, nomeadamente no que se refere à ligação intrínseca entre raça, doença e masculinidade (cf. Kanz 2003: 158¬159). Todavia, as propostas de Sacher-Masoch, que atrás referi já como autor da Venus de Peles e que faz a apologia do homem judeu e da família judaica como família ideal, não parecem ter colhido maior simpatia do autor. Estranho poderá parecer, por isso, que na Carta ao Pai, Kafka se queixe de não lhe terem sido transmitidas convicções religiosas firmes, pois afigura-se-lhe que a ortodoxia judaica, que nem ele nem o pai professam, poderia ter constituído uma base de entendimento entre ambos (cf. Kafka 2007: 46-53). Também o homem atlético, o desportista, que integra o imaginário da masculinidade do início do século XX e que inspira a figura do fogueiro e a desenvoltura de Karl Rossmann, em O Fogueiro, as acrobacias que o insecto faz no tecto e que o farão estatelar-se no chão, em A Metamorfose, e as que acompanham o suicídio de Georg em A Sentença, é alvo da desconstrução generalizada a que Kafka submete os modelos de masculinidade (cf. Boa 1996: 109). […] Teresa Martins de Oliveira, «“Os Filhos” de Kafka: Construções de Masculinidades em “A Sentença”, “ A Metamorfose” e “ O Fogueiro”», in Kafka – Um livro sempre aberto.

O Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e o Departamento de Estudos Germanísticos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto levaram a cabo em 5-12-2008 uma jornada dedicada a Franz Kafka, com a qual se pretendeu assinalar o 125º aniversário do nascimento do escritor.Os seis estudos que se publicam neste volume constituem as respostas de outros tantos autores, atentos ao desafio que representa a obra de Kafka, livro sempre aberto a um novo “virar de página”.


ÍNDICE

- Introdução
- Tradução e Edição – A Propósito de Recentes Traduções de Kafka | Teresa Seruya
-  Kafka -  Uma Habilidade Necessária | Nuno Amado
-  “Os Filhos” de Kafka: Construções de Masculinidades em “A Sentença”, “ A Metamorfose” e “ O Fogueiro” | Teresa Martins de Oliveira
- Kafka -  Os Paradoxos de “O Novo Advogado” | Gonçalo Vilas-Boas
 - Fantasias de Fragmentação em Conrad, Kafka e Pessoa | Gerald Bär
- À Conversa com Manuela Bacelar
- Anexos Ilustrações de Manuela Bacelar – “Kafkas para que vos quero”

sábado, agosto 20, 2011

Pulsar e Cassiopeia, parceria Deriva Editores com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa


As colecções Pulsar e Cassiopeia, resultantes de uma parceria com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da Faculdade de Letras do Porto,  dão a conhecer  estudos muito relevantes no âmbito da Teoria da Literatura. Na  Pulsar, foram já editados Jean-Pierre Sarrazac (com A Invenção da Teatralidade seguido de Brecht em Processo e O Jogo dos Possíveis), Pascal Quignard (com Um Incómodo Técnico em Relação aos Fragmentos) e Antoine Compagnon (com Para que serve a Literatura?), Jean-Claude Pinson (com Para que serve a Poesia hoje?).
A Cassiopeia acolheu  um inédito de Pedro Eiras, intitulado Tentações: Ensaio sobre Sade e Raul Brandão e Kafka: Kafka, um Livro sempre Aberto, organizado por Teresa Martins de Oliveira e Gonçalo Vilas-Boas.

quarta-feira, agosto 17, 2011

A chegar:O Homem que Via Passar as Estrelas, de Luís Mourão - TEATRO para a Infância e Juventude


O Homem que Via Passar as Estrelas, de Luís Mourão, é uma viagem ao centro dos planetas do Sistema Solar, guiada pelo grande astrónomo da Humanidade, Sir Isaac Newton.
O descontentamento dos planetas é geral, e um de cada vez, procuram Sua Majestade, o Sol, cada um com o seu protesto. Em vão. É noite e Sua Majestade não recebe visitas. Newton é acordado com a chegada repentina destes planetas que afirmam que dali não saem sem serem ouvidos.

terça-feira, agosto 16, 2011

Conto da Travessa das Musas, João Pedro Mésseder (texto) e Manuela São Simão (ilustração)

Ver aqui.






[...] Da janela, observava aquela travessa de pessoas humildes, onde a sua família era a única de «gente remediada» - assim dizia a mãe - e por onde, ao fim da tarde, circulava um polícia gordo e pachorrento, com cara de tractor amolgado, a quem a garotada chamava «o Bigodes». Era também na rua, quase sem trânsito, que brincava e jogava à bola, com grande alarido, a miudagem das casas pobres. [...]  in O conto da Travessa das Musas, João Pedro Mésseder (texto) e Manuela São Simão (ilustração)



O Aquário, João Pedro Mésseder e Gémeo Luís

Uma história de peixes, cores e sabores para os mais pequenos. Um aquário é também um mundo em miniatura, onde se jogam relações entre iguais e diferentes, novos e velhos, e onde se geram preconceitos e ideias feitas. As ilustrações ajudam a compreender situações e personagens, sem deixarem de construir um cenário onírico e sedutor.






Vozes do Alfabeto, de João Pedro Mésseder, reúne cerca de três dezenas de poemas. São versos preferencialmente destinados a crianças em fases iniciais de aprendizagem da leitura e da escrita, ou seja, em idade de frequentar o 1º ciclo do Ensino Básico. A cada letra corresponde um texto, por vezes dois. Se aqui o poema se assemelha a uma micro-história em verso, acolá encena um pequeno episódio burlesco; e outros há que se mantêm num registo lírico. Organizados de acordo com a ordem das letras no alfabeto (primeiro o poema centrado no A, depois no B, depois no C, e assim sucessivamente), inspiram-se no trava-línguas da tradição oral. Deste modo, a simplicidade da linguagem, ao alcance da capacidade de compreensão da criança, vê-se literariamente compensada pelo recurso à aliteração, à assonância, à anáfora, ao jogo linguístico e a outros elementos expressivos. Rimados e ritmados, facilmente memorizáveis, os textos permitem, se lidos em voz alta, activar a atenção auditiva e concorrem para o desenvolvimento da consciência fonológica, sem nunca abdicarem da dimensão lúdica e do humor que são traços distintivos deste livro, profusamente ilustrado com imagens de assinalável qualidade. [texto daqui]


domingo, agosto 14, 2011

Para que serve a poesia hoje?, Jean-Claude Pinson (tradução José Domingues de Almeida)



A segunda parte de Para que serve a poesia hoje? é constituída por uma série de perguntas/respostas que se seguiram à conferência proferida por Pinson, a 12 de Janeiro de 1999 em Nantes.

Jean-Claude Pinson
 [...]A pergunta que lhe queria colocar é a seguinte: será que a concepção que expôs não passa, ao fim e ao cabo, de uma concepção histórica, transitória, passageira, muito actual desde a queda das ilusões do surrealismo? Hoje em dia, estaríamos neste ponto, i.e. numa espécie de dúvida de si, mantida pelos jornais, pela televisão porque, no fundo, se teme o poder subversivo da poesia – pois se a filosofia ajuda a pensar com rigor, a poesia ajuda a pensar de forma diferente. Assim, não estaremos nós numa fase transitória desde há 20 anos, e poderemos nós imaginar, conceber transformações que renovem coisas mais antigas sob formas novas?
É-me muito difícil fazer prognósticos quanto ao que será a poesia de amanhã. Posso, claro, desejar uma situação em que lhe fosse dado melhor acolhimento e em que contasse mais na sociedade. Mas não estou certo de perceber bem hoje os sinais desse futuro risonho.O que observo, no entanto, é que a questão da poesia – e, julgo, será uma das questões mais vivas hoje nos debates em torno da literatura – permanece muito presente e de novo muito aberta. A poesia não é um objecto indiferente; ela continua a suscitar fortes interrogações e tomadas de posição apaixonadas, mesmo se tal diz apenas respeito a um número restrito de pessoas. Como se a poesia continuasse, apesar de tudo (mesmo quando tem pouca visibilidade social), a ser uma dimensão essencial, fundamental da nossa presença na linguagem e no mundo.Quanto aos poderes que a poesia teria, quando não de suscitar, pelo menos de anunciar transformações mais fundamentais, estou de certa forma perplexo. Não podendo «mudar a vida», a poesia estaria em condições de preservar a possibilidade de outro futuro do homem na terra, de indicar às nossas existências outra medida, outro ritmo para além do imposto, hoje em dia, pelo domínio da técnica e do mercantilismo. É uma posição que se pode encontrar num poeta como Yves Bonnefoy. Este último mantém nos seus escritos com carácter teórico a ideia de que a poesia seria portadora de uma esperança. Hoje, há uma espécie de monocultura que se foi impondo em toda a superfície do planeta, de forma cada vez mais pesada, mas na sombra, afirma sumariamente Bonnefoy, a poesia vai ficando de guarda. Talvez anuncie – há que sermos muito prudentes neste tipo de prognóstico – uma outra era da humanidade. É a velha ideia, presente já nos primeiros românticos alemães, de um «deus vindouro». Encontramo-la também em Hölderlin. Os deuses fugiram: já não há nem cosmos harmonioso, nem deus transcendente para dar sentido e fundamento à nossa existência. Tudo isso se desmoronou com o século das Luzes, mas, em segredo, a poesia trabalha na preservação da possibilidade de outro entendimento da linguagem (do logos) – um entendimento capaz de ajudar, um dia, a sair do túnel da época. Ela conserva a esperança de um novo sagrado – de um mundo em que nem tudo estaria submetido ao reinado da mercadoria.Quanto ao resto, estou bem consciente de que tudo quanto disse esta noite depende inevitavelmente de um ponto de vista e de uma história. Como escapar à própria época? Como «saltar por cima da própria sombra»? Falo a partir do que conheço: a poesia contemporânea. Quando analiso a sua paisagem, esforço-me por ser objectivo. Mas o meu ponto de vista, como qualquer outro, está situado. Tenho, como cada qual, uma história. Por exemplo, descobri com verdadeiro deleite, nos anos sessenta, no contexto do que chama de «terrorismo estruturalista», um autor como Denis Roche. Na altura, achei nele uma grande frescura, um grande vigor, em ruptura com o «ronrom» poético de então. Quando, vinte anos mais tarde, retomei os seus textos, o meu sentimento já não foi o mesmo.Tudo isto para dizer que, afinal de contas, o importante não está nos propósitos teóricos, nos manifestos ou nas proclamações de intenção. Os propósitos teóricos podem apenas contribuir para um trabalho de limpeza, de desengorduramento, das várias formas pesadas da poesia. O que importa verdadeiramente, em último recurso, são as próprias obras, a sua pertinência, o seu vigor, mas também o seu poder de permanecerem substanciais para além da emoção da novidade que suscita o seu aparecimento. [mais aqui]

sábado, agosto 13, 2011

Notícias das Guerras Napoleónicas, Dietário do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro 1807-1816.


Da introdução de Maria Isabel Pereira Coutinho a Notícias das Guerras Napoleónicas, Dietário do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro 1807-1816.

«O autor tem esse dom: faz-nos mergulhar na História. História que é também a dum povo - o português- que sem Rei, chefes militares, dinheiro ou armas, munido a princípio apenas dos instrumentos do seu ofício - foices, piques, paus e pedras, além de algumas raras caçadeiras e de muito engenho e coragem - se lançou  na aventura sem igual, (apesar do desnorte e da "anarquia" em que por vezes caíram esses "corpos sem cabeça", como se lhes refere o autor do Dietário), de expulsar da sua Pátria aqueles que tão traiçoeiramente aí tinham entrado e intentavam permanecer. E que mais tarde, integrado já em exércitos regulares, Anglo-lusos e por vezes espanhóis, os perseguia pela Espanha e França dentro, quantas vezes deixando aí o seu sangue e a sua vida.» 

quinta-feira, agosto 11, 2011

A Inexistência de Eva, de Filipa Leal ou a recusa do pânico

«Um livro sobre a voz que nos faz ficar», Filipa Leal sobre A Inexistência de Eva

Filipa Leal sobre A Inexistência de Eva no programa Autores de 29.7.11. Aqui.

quarta-feira, agosto 10, 2011

Uma mensagem do Futuro: Perigo Vegetal

Enquanto a Ameaça na Antártida não chega, lê (ou relê) o primeiro livro da trilogia, Perigo Vegetal.


Said e Sheila vivem, no ano 2075, no interior da Galiza, mas estão ligados em comunicação ao mundo global do passado. Uma gigantesca companhia transnacional, a C.U.B., tenta apoderar-se de todas as sementes de cereais existentes como parte de um plano para dominar toda a agricultura do planeta.


O Perigo Vegetal é apenas a primeira aventura destes dois corajosos irmãos.Ramón Caride escreveu e Miguelanxo Prado ilustrou.
 “Depois da colheita da planta, as raízes que ficam na terra sofrem uma mutação e originam esta planta destruidora. […] a única forma de a eliminar é arar muito fundo, a vários metros de profundidade, para eliminar todas as raízes e poder voltar a semear. Mas o processo é muito complexo, basta que fique uma raiz, por pequena que seja e regenera-se a praga.” in Perigo Vegetal



Perigo Vegetal  aborda, de uma forma simples, as consequências nefastas da monocultura e da manipulação genética, sem controlo e sem escrúpulos.
O comportamento das plantas geneticamente modificadas é diferente em laboratório e em vastas áreas. Se as plantas geneticamente modificadas tiverem um elevado poder de propagação elevado, as plantas convencionais podem vir a ser exterminadas. A biodiversidade fica em perigo. Com menor diversidade de espécies a vida na Terra torna-se mais sujeita a alterações ambientais. Pelo contrário, quanto mais rica é a diversidade biológica, maior é a oportunidade para descobertas no âmbito da medicina, da alimentação, do desenvolvimento económico, e de serem encontradas respostas adaptativas a essas alterações ambientais.



Plano Nacional de Leitura 
Livro recomendado no programa de português do 6º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade II.


 Críticas

"Uma aventura para miúdos com dez anos ou mais, cujos protagonistas vivem na Galiza, no ano de 2075. Perigo Vegetal conta-nos como experiências com um super-cereal estão a pôr em perigo o planeta. Sheila e Said são dois irmãos que, do futuro, lançam alertas ecológicos para o passado. Uma espécie de diário a quatro mãos, que não deixa de transparecer as embirrações próprias dos manos adolescentes. Vindo da banda desenhada, o ilustrador Miguelanxo Prado cria um ambiente que se adequa bem à natureza do texto. Um tema pertinente." Rita Pimenta, Milfolhas, Público, 20.Dez.03


"Uma obra bem contada, divertida, actual, das que se lêem de uma só vez e fazem novos leitores para as aventuras que se seguem." Helena Pérez, Julho de 2002